Aventura em foco

Buriti : Árvore da vida

Texto e Fotos Ana Paula Schnornberger / Data 31-08-2023

Vamos conhecer o buriti, uma palmeira que se destaca pela sua beleza natural, sua funcionalidade em diversas áreas, desde a culinária até a construção civil. Conhecida como “árvore da vida”, essa espécie nativa do Brasil encontra-se principalmente em regiões alagadas do Cerrado, da Amazônia e do Pantanal. Sua capacidade de adaptação a diferentes ambientes úmidos a torna um recurso renovável essencial para o desenvolvimento sustentável.

O fruto do buriti é uma fonte rica de nutrientes e sua versatilidade é explorada diariamente pelas comunidades. Empreendedores estão cada vez mais atentos ao potencial desta palmeira, utilizando-a em produtos que vão desde alimentos até cosméticos. Seu uso é um exemplo prático de como recursos naturais podem ser aproveitados de forma integral e sustentável.

As comunidades indígenas e ribeirinhas, principais cultivadoras e guardiãs do conhecimento ancestral sobre o buriti, utilizam essa palmeira para garantir sua subsistência e preservar a cultura local. Este é um modelo de empreendedorismo sustentável, onde o respeito ao meio ambiente e a valorização da cultura são elementos chave para o sucesso econômico.

Além de sua aplicação na culinária, o buriti também tem um papel fundamental na construção, com suas folhas sendo utilizadas para cobrir casas, proporcionando isolamento natural e resistência às condições climáticas adversas. No artesanato, as fibras do buriti são transformadas em uma variedade de produtos, como bolsas, esteiras e chapéus, representando uma importante fonte de renda para muitas famílias.

Este cenário de uso diversificado do buriti mostra como a inovação pode partir de recursos locais, promovendo a sustentabilidade e o desenvolvimento econômico. Histórias como a dos artesãos que transformam a fibra do buriti em itens de moda sustentável ilustram a capacidade de adaptar tradições antigas às demandas modernas do mercado.

Os benefícios ambientais do buriti são igualmente significativos. A palmeira ajuda na conservação dos solos úmidos, essencial para a biodiversidade local, e serve como um exemplo prático de como a exploração econômica pode coexistir com a preservação ambiental.

O buriti é um símbolo de resistência, inovação e empreendedorismo sustentável. Ele exemplifica como a integração entre natureza e cultura pode criar soluções econômicas viáveis e ecologicamente corretas.

Capim Dourado

Texto e Fotos Gustavo Sá / 20-07-2023

No coração do Jalapão, em Tocantins, a história do capim dourado é tecida com tradição e sustentabilidade. Este capim, conhecido pela sua deslumbrante cor dourada que brilha intensamente sob o sol, é mais do que um recurso natural; é uma herança cultural passada de mãe para filha na comunidade de Mumbuca. Sua exploração responsável é um exemplo de como o manejo adequado dos recursos naturais pode sustentar não apenas o ambiente, mas também a economia local.

A saga começou com Dona Laurina, uma pioneira que, ao criar um chapéu para seu marido Silvério, inadvertidamente deu início a uma prática que se transformaria em um símbolo regional. O chapéu, notado e comprado por um viajante, marcou o início da jornada do capim dourado no artesanato local. No entanto, foi Dona Miúda, filha de Laurina, que verdadeiramente impulsionou essa arte ao destacar a importância de colher o capim somente na estação adequada — entre setembro e novembro — para garantir sua renovação anual.

Dona Miúda, com seu profundo respeito pelo ciclo natural do capim dourado, ensinou à sua filha e à comunidade que o desenvolvimento sustentável depende da harmonia entre a preservação ambiental e as práticas de colheita. Suas lições transcendem a simples técnica artesanal; são preceitos de vida que garantem a continuidade tanto da espécie quanto da cultura artesanal. Este valioso ofício também foi generosamente passado para outros membros da comunidade, expandindo o conhecimento e a prática desta arte tradicional.

Hoje, essa prática se perpetua nas mãos habilidosas de Dona Doutora, neta de Laurina, que assim como sua mãe e avó, ensina as novas gerações a valorizar e respeitar o tempo de crescimento do capim dourado. Este manejo cuidadoso reflete-se na qualidade e na beleza dos objetos produzidos, que vão de bijuterias a cestarias e variadas decorações.

Cada peça é meticulosamente trançada com tiras finas de outra planta local, o buriti, sem o uso de cola ou metal, o que enfatiza a pureza e a autenticidade do artesanato. Esses produtos não só embelezam quem os usa, mas também contam a história de uma comunidade que encontrou no capim dourado uma forma de expressão cultural e de sustento.

O legado de Dona Laurina, Dona Miúda e agora Dona Doutora mostra que o desenvolvimento sustentável pode ser uma realidade palpável quando há respeito pelo ciclo natural e uma forte conexão com as tradições culturais. Este compromisso com a sustentabilidade garante que o capim dourado continue a ser um emblema de resistência e prosperidade para a comunidade do Mumbuca, refletindo a riqueza não apenas do Jalapão, mas de todo o Cerrado.

A história do capim dourado é um lembrete eloquente de que a verdadeira riqueza de uma comunidade reside na capacidade de harmonizar suas práticas econômicas com o respeito ao meio ambiente e à cultura local. É uma narrativa que nos inspira a considerar como podemos, cada um à sua maneira, contribuir para a preservação e o florescimento das nossas próprias tradições e recursos naturais.