Texto e Fotos Gustavo Sá / 20-07-2023
No coração do Jalapão, em Tocantins, a história do capim dourado é tecida com tradição e sustentabilidade. Este capim, conhecido pela sua deslumbrante cor dourada que brilha intensamente sob o sol, é mais do que um recurso natural; é uma herança cultural passada de mãe para filha na comunidade de Mumbuca. Sua exploração responsável é um exemplo de como o manejo adequado dos recursos naturais pode sustentar não apenas o ambiente, mas também a economia local.
A saga começou com Dona Laurina, uma pioneira que, ao criar um chapéu para seu marido Silvério, inadvertidamente deu início a uma prática que se transformaria em um símbolo regional. O chapéu, notado e comprado por um viajante, marcou o início da jornada do capim dourado no artesanato local. No entanto, foi Dona Miúda, filha de Laurina, que verdadeiramente impulsionou essa arte ao destacar a importância de colher o capim somente na estação adequada — entre setembro e novembro — para garantir sua renovação anual.
Dona Miúda, com seu profundo respeito pelo ciclo natural do capim dourado, ensinou à sua filha e à comunidade que o desenvolvimento sustentável depende da harmonia entre a preservação ambiental e as práticas de colheita. Suas lições transcendem a simples técnica artesanal; são preceitos de vida que garantem a continuidade tanto da espécie quanto da cultura artesanal. Este valioso ofício também foi generosamente passado para outros membros da comunidade, expandindo o conhecimento e a prática desta arte tradicional.
Hoje, essa prática se perpetua nas mãos habilidosas de Dona Doutora, neta de Laurina, que assim como sua mãe e avó, ensina as novas gerações a valorizar e respeitar o tempo de crescimento do capim dourado. Este manejo cuidadoso reflete-se na qualidade e na beleza dos objetos produzidos, que vão de bijuterias a cestarias e variadas decorações.
Cada peça é meticulosamente trançada com tiras finas de outra planta local, o buriti, sem o uso de cola ou metal, o que enfatiza a pureza e a autenticidade do artesanato. Esses produtos não só embelezam quem os usa, mas também contam a história de uma comunidade que encontrou no capim dourado uma forma de expressão cultural e de sustento.
O legado de Dona Laurina, Dona Miúda e agora Dona Doutora mostra que o desenvolvimento sustentável pode ser uma realidade palpável quando há respeito pelo ciclo natural e uma forte conexão com as tradições culturais. Este compromisso com a sustentabilidade garante que o capim dourado continue a ser um emblema de resistência e prosperidade para a comunidade do Mumbuca, refletindo a riqueza não apenas do Jalapão, mas de todo o Cerrado.
A história do capim dourado é um lembrete eloquente de que a verdadeira riqueza de uma comunidade reside na capacidade de harmonizar suas práticas econômicas com o respeito ao meio ambiente e à cultura local. É uma narrativa que nos inspira a considerar como podemos, cada um à sua maneira, contribuir para a preservação e o florescimento das nossas próprias tradições e recursos naturais.